Foto: Uv Studio
Os pátios da escola são espaços de relações, interações, descobertas, aprendizados e muita diversão! Rotineiramente a organização se dá com um revezamento desses lugares, para que todas as turmas possam aproveitar o espaço externo da escola.
Os planejamentos para a preparação desses espaços são pensados de acordo com os projetos vigentes, que estão entrelaçados nas propostas, mas documentalmente são fragmentados, para que o olhar da professora esteja em consonância com a demanda da faixa etária de suas crianças, e as observações e mediações possam acontecer nos momentos oportunos.
Sendo assim, todo início de tarde, as professoras e suas auxiliares, de acordo com os seus planejamentos, preparam o seu pátio fazendo uso, preferencialmente, de materiais não estruturados tais como, madeiras, cones, argolas, tecidos... para receber as crianças, pois ali será a sua sala de aula; e esses materiais propiciam aos pequenos ricos momentos de, imaginação, criação e interações entre os pares.Para os bebês do berçário, os momentos de pátio são escolhidos de acordo com a condição do clima e o horário mais conveniente, por exemplo, após a soneca ou após as refeições. As crianças precisam estar alimentadas e dispostas; o espaço precisa estar ensolarado e agradável.
Sobre um tapete emborrachado os pequenos apreciam a paisagem, brincam com os seus brinquedos e engatinham sentindo o calor do sol e a brisa suave.
Colinho e cosquinhas fazem parte das brincadeiras com os bebês. O contato físico, o sentir-se querido, bem-vindo e respeitado gera segurança e o desenvolvimento acontece da melhor forma.
Nos constituímos no contato com o outro, que é o nosso espelho e nossa referência de ser humano.
Quando chegamos ao mundo somos sensoriais, interagimos com as pessoas e as coisas através de todos os nossos sentidos, o meio natural é um convite à exploração e uma festa para os sentidos.
O canto dos pássaros, o verde das folhagens, as texturas das superfícies e até mesmo o seu sabor é a forma como as nossas “pessoinhas” interagem com o meio e constroem as suas memórias. Estar no espaço externo, além de despertar a curiosidade sobre o mundo que nos cerca, também propicia conexões favoráveis aos desenvolvimentos físico e emocional.
Turma do Infantil IIA
A partir da Turma do Infantil IIA os momentos de brincadeiras e propostas de trabalhos nos pátios acontecem com mais frequência, nessa fase os pequenos já são caminhantes e as explorações acontecem muito mais de acordo com os desejos e curiosidades individuais. Mesmo assim, ainda que as crianças tenham liberdade para experienciar suas aventuras exploratórias, as professoras preparam o espaço para recebê-las com propostas e materiais que instiguem e que possam suscitar a imaginação dos pequenos.
Bacias e colheres de pau podem ser bem apropriados para brincar de fazer comidinha, maaas, considerando a hipótese de que as crianças, assim como os passarinhos que estão alçando seus primeiros vôos na aventura de desbravar o mundo, são seres musicais, em suas mãos as bacias e as colheres se tornam excelentes instrumentos de percussão ou de corda.
Para as experimentações pictóricas, as limitações são mínimas, as possibilidades são muitas, enquanto alguns amigos brincam na areia, experimentando com os pezinhos descalços a sua textura e se divertem, uma das crianças produz uma obra de arte em uma tela pouco convencional.
Turma do Infantil IIB
Para a turma do Infantil IIB, que são crianças que completam 2 anos no primeiro semestre do ano letivo, as propostas de pinturas com guache, guache e um outro elemento que acrescente uma textura na produção, pigmentos naturais e superfícies diferencias são oferecidas com mais frequência. Geralmente esses momentos acontecem no pátio, porque quem acaba pode, em seguida, ir brincar com os outros amigos.
O processo de produção é o mais importante, é o momento em que os sentidos estão em verdadeira conexão. Ao finalizar, só resta admirar a Obra de Arte, que pode estar na superfície transformada ou nas pequenas mãos que produziram a transformação.
Os trabalhos coletivos são tão importantes quanto os individuais, pois nos fala que vivemos em coletividade e que a nossa participação é sempre muito importante e estar entre amigos, brincar, se divertir e produzir obras com muita arte é sempre muito bom!
Crianças do Infantil IIC
As crianças do Infantil IIC completam 3 anos durante o ano letivo, nessa fase elas já viveram as mais variadas experimentações no que diz respeito a produção artística, e continuam vivenciando, porém no pátio, o espaço é mais aproveitado para as aventuras corporais. Nas quartas-feiras a turma do infantil IIC divide o pátio da árvore grande com a turma do infantil V e VI. Nos registros que seguem a turma do infantil V e VI, no início da tarde, preparou o pátio com madeiras em diversos formatos e produziram vários ambientes com esse material.
Após a preparação, foram a biblioteca e depois para a sala; seguindo a rotina de atividades do início da tarde. Enquanto eles estavam em sala, as crianças do infantil IIC exploraram e aproveitaram as construções dos amigos.
As crianças foram chegando e observando o espaço. Um tronquinho de madeira pode ser uma torre ou não, importante mesmo é manusear, construir e desconstruir, sempre de acordo com a imaginação.
O desenvolvimento motor e o cognitivo acontecem simultaneamente, por isso os nossos pequenos experimentam as mais variadas formas de locomoção, preensão palmar, percepção de peso, formas e medidas sempre em um ambiente rico em possibilidades.
Após as vivências dos pequenos do infantil IIC, eles entraram para a sala para a roda de conversas e hora do lanche. Antes do final da tarde é o momento das crianças do Infantil V e VI aproveitarem esse espaço que foi montado por eles.
Tábuas e pedaços de madeira podem ser um barco em alto mar, com amigas aproveitando as férias ou então, um barco pirata com uma rampa muuuito perigosa. Troncos de madeira podem se transformar num barco de pesca, numa casa, um veleiro...não há limites para a imaginação das crianças.
Turma do Infantil III
A turma do Infantil III é composta por crianças que completam 4 anos durante o ano letivo, para esses pequenos, que atualmente são os Guardiões das Brincadeiras, os momentos de pátios são aproveitados para as brincadeiras tradicionais, sua manutenção e conservação, para que as brincadeiras de nossos pais, avós e bisavós perdure por muitas gerações. Esses momentos divertidos não costumam necessitar de muitos acessórios ou materiais, geralmente um pedaço de tecido (lenço atrás), uma pedrinha (amarelinha), uma corda….pois são, em sua maioria, corporais e em grupo, além de ser de baixa competitividade, essas brincadeiras fortalecem os laços de amizade e o sentimento de pertencimento.
“Lenço atrás, corre mais, lenço atrás, corre mais…”
além da linguagem muito presente, a ampliação do vocabulário e o exercício da memória oral, há também, com expressiva relevância o desenvolvimento motor.
As brincadeiras com regras simples, que as crianças conseguem assimilar, é uma forma lúdica de inserí-los ao universo dos combinados.
Um dos princípios dessa brincadeira é que todos participem, porque é muito bom e divertido pegar o lenço e correr atrás do amigo. “Corre cutia na casa da tia, corre cipó na casa da vó…”
Pátios do deque e das pedrinhas
Os pátios do deque e das pedrinhas são espaços distintos, de acordo com os rodízios que costumamos organizar, cada turma ocupa um desses lugares com as propostas que as professoras organizam. Porém, para as crianças não há delimitações ou restrições sobre a ocupação desses dois espaços, elas podem transitar livremente e participar de ambas as propostas. Neste dia a Turma dos Guardiões das Brincadeiras estavam nas pedrinhas e a proposta era brincar de consultório médico embaixo da casinha, e a Turma dos Protetores da Fauna estavam no deque, e a proposta, de acordo com o relato da professora Fafá, eram duas mesas para recorte e colagem de papéis para atender uma demanda de algumas crianças da turma; em um outro espaço do deque ela montou um ambiente com computadores, teclados e embalagens, também para atender uma outra demanda, pois alguns integrantes dessa turma estavam sinalizando o desejo de brincar com esse faz de conta.
Estar no deque não significa que não se pode transitar pelas pedrinhas, e vice e versa. As crianças brincavam e imaginavam e também aproveitavam as balanças e o espaço das pedrinhas.
Quando a chuva cessa, sempre tem alguém que se lembra de coletar um pouquinho dela.
Depois da diversão na chuva, as brincadeiras e os brincantes retomam os seus lugares e seguem no mundo da imaginação.
Turma do Infantil IV
A turma do Infantil IV são crianças que completam cinco anos durante o ano letivo. Nos registros que seguem, enquanto a professora Manu prepara um espaço para uma produção artística mais arrojada, em que a idéia é arremessar na parede ovos recheados com tinta e acertar o papel, as crianças brincam em uma construção com pneus que elas montaram.
Sempre tem uma criança mais curiosa que vai dar uma espiadinha na organização dos materiais.
Depois de tudo organizado a Manu convida as crianças para se sentar e ouvir sobre a proposta. Após a explicação ela pergunta quem quer ser o primeiro. Todos levantam as mãos. Os ovos estão recheados com tintas e tampados com um pedaço de papel colado sobre a abertura. Enquanto escolhem, elas tentam adivinhar a cor da tinta.
E começam os arremessos…
Quando a força não é suficiente para que o ovo chegue até o alvo, e ele cai no meio do caminho, as crianças juntam os pedacinhos e os esmagam no papel.
Finalizados os trabalhos, as crianças seguem sua rotina de roda, hora do lanche, higiene bucal... a obra de arte coletiva permanece impassível, esperando a secagem e a apreciação pelos seus produtores.
Turma do Infantil V e VI
A turma do Infantil V e VI são os mais velhos, os veteranos, alguns chegaram bebês e agora estão se despedindo da escola. Para esse pessoal as propostas e os desafios possuem um grau mais elevado de complexidade, além de brincar nos pátios, eles também compartilham brincadeiras, construções e/ou instalações e também se ocupam em fabricar tintas para as suas produções artísticas.
No mês de junho a escola proporciona semanalmente uma roda de cantoria em volta da fogueira, onde, em companhia do professor Dani com o seu violão e do Fabrício com a Sanfona, a escola toda degusta culinárias típicas de Festa Junina e canta canções do nosso cancioneiro popular.
Após a finalização as professoras apagam a fogueira, isolam o lugar com pneus para a segurança das crianças e assim que os carvões incandescentes se resfriam, as crianças mais velhas que também se intitulam os maiores e os mais corajosos, coletam o carvão para fazer tinta.
Eles se organizam, alguns maceram (passar na peneira e organizar os materiais) o carvão e outros passam na peneira. Todos participam do processo. Se faltar ferramenta é possível esmagar com as mãos e observar o farelo de carvão no corpo e nos recipientes.
As decisões e discussões acontecem em roda e a idéia de coletividade, trabalho em grupo é bem comum e sempre reforçada, onde todos tem o direito de opinar e dar sugestões, sempre mediados pela professora Fafá.
Nesse registro o assunto é como produzir tinta com carvão, e a pergunta é: Qual o melhor elemento, cola ou álcool? Qual é o aglutinante?
Todos opinam até que chegam num consenso.
"Só pode ser cola, porque gruda no papel".
Eis as Obras de Arte! E pensar que o início do processo foi uma animada roda de cantoria com violão, sanfona e um repertório da melhor qualidade.
Ato de construção e produção
Uma proposta bastante recorrente para essa turma é a de desenho de observação, onde as crianças escolhem o que observar para desenhar, pode ser uma árvore do pátio, um dos brinquedos desses espaços, ou então, produzir instalações com diversos materiais e depois escolher um recorte para observar os detalhes e desenhar.
O ato de construção e produção possibilita a interação entre os pares, o manuseio de materiais de diversos formatos, texturas, espessuras, pesos, medidas e temperaturas diferenciados; o exercício de olhar para os detalhes, considerando também a criatividade e a inventividade das crianças.
Nos registros que seguem, a Fafá disponibilizou às crianças cones, argolas, tecidos, latas, pedras e madeiras e dividiu a turma em pequenos grupos, três e quatro integrantes.
O combinado era produzir espaços com instalações que dialogassem entre si, cada produção não poderia estar desconectada do todo. E também, caso alguém precisasse de um material que estivesse com o seu vizinho, era necessário negociar, o diálogo deveria ser o principal recurso.
O desenho de observação permite afinar o olhar, perceber os detalhes do objeto observado. Quando se muda o ângulo é o mesmo objeto, ou a mesma paisagem com outros detalhes. Essa atividade além de bela por conter a participação integral das crianças, possibilita para os pequenos, de forma lúdica, o aprendizado sobre os diversos pontos de vista sobre o mesmo tema. Além de desenhar, as crianças também brincam com os materiais.
Enquanto alguns apreciam as produções, outros permanecem concentrados.
Os registros textuais e fotográficos dessa documentação sobre os pátios da Escola Semeador, são referentes ao primeiro semestre do ano de 2019. Para o segundo semestre também está programado a documentação desses espaços, porém, com outros objetivos e em outras perspectivas.
Texto: Nina | Coordenadora
Escola Semeador
Tantos momentos mágicos. Gratidão.